É um facto que os fóruns de discussão começaram a ser mais conotados com redes sociais obsoletas.
A malta da geração dos 'vintes' de hoje quer coisas mais rápidas, respostas mais curtas e de preferência com vídeos e imagens ao lado, fácilmente colocáveis e partilháveis. Os fórums são estruturas mais pesadonas e não conseguem ser tão ágeis.
Esta é parte da explicação.
A outra parte tem a ver com esta também mas é mais específica: Tem a ver com a idade e com a vida das pessoas. Falo por mim, mas quando comecei a frequentar isto andava nos 30 e poucos e vou fazer 45 este ano. Tenho filhos a estudar e tenho de trabalhar e já me sobra pouco ou nenhum tempo para as voltinhas de bicicleta, quanto mais para andar aqui em amenas cavaqueiras... o tempo de ócio que me resta gosto de o gastar a passá-lo com os meus filhos e a ver filmes ou séries.
Outra questão que vejo sempre trazida à baila com recorrência: O presente estado do 'movimento fixed-gear' e consequentes lamentações. Considero que este é cada vez mais um 'não-assunto' que não vale a pena analisar muito. Eu explico:
Não é só cá no burgo que a cultura 'fixed-gear' começou a deixar de ser uma trend em explosão e passou a ser um nicho com fiéis. É por todo o lado, é generalizado. Por exemplo, lembro-me bem do site 'The Radavist', que há 12 anos chamava-se 'Prolly is Not Probably' e era 99% dedicado às fixed-gears, acessórios, roupa, pessoas, como o Mash e outros do género. E hoje é muito mais do que isso, aliás, contam-se pelos dedos as bicicletas fixed-gear, pista ou whatever, que aparecem no Radavist e outros sites. As tendências seguem em frente e fica o que fica. Não se pode ficar parado no tempo.
Mas o Fixed-gear era 'a cena' do momento e havia de tudo, revistas, competições de truques, encontros, etc. Mas se muita gente, tal como eu, (re)descobriu o gosto pelas bicicletas pela via do carreto preso em modo urbano (e ainda bem que assim foi), pelo ressurgimento dos 'club runs', pelos passeios e coisas assim, quem verdadeiramente gostava ou passou a gostar de bicicletas e de tudo à volta, também descobriu que havia mais bicicleta para além do fixed-gear.
Redescobriu as estradeiras clássicas, redescobriu as tourers clássicas, depois o CX, as BTTs clássicas, depois apareceram as Gravel/Allroad, e muitos até passaram para o 'lado negro da força' e hoje têm apenas uma bicicleta de carbono da Canyon e são felizes assim. Há de tudo. A verdade é que era muita coisa para explorar e começou a ser difícil uma pessoa ficar-se apenas pelo carreto preso. Depois, verdade seja dita, o carreto preso é muito giro, dá uma pica do caralho e também muito swag e muito street cred, mas não é nada prático em certos ambientes e chega mesmo a ser perigoso (caí várias vezes, choquei com carros - um deles da presidência da república, com peões e tenho quase a certeza que a minha lesão no menisco originou no andar de fixed-gear e numa queda que dei ali para os lados do encontro da Rua Caetano Palha com a do Poço dos Negros (LX), perto da antiga loja Ciclone. Não era nada fácil em Lisboa e penso que hoje em dia ainda menos é, com a cidade carregada de pessoas e com muito mais e ainda pior trânsito. Mas não nego que noutros sítios possa ser um grande prazer e até perfeitamente adequado (estou a lembrar-se de Aveiro, por exemplo).
Enfim, um tipo também cresce e começa a pensar que gostava de manter os dois joelhos a funcionar para poder continuar a disfrutar das bicicletas. Por outro lado o dinheiro também não estica e é fácil um gajo, se não tiver cuidado, chegar às 9 ou 10 bicicletas como eu cheguei (hoje já são apenas três com uma quarta a chegar) e também não é fácil ter apenas uma que sirva para todas as vontades. Mas tenho verdadeiras saudades da sensação de 'unidade mecânica' que é andar de fixed gear, mas numa mesmo a sério, numa de pista como cheguei a ter e se fosse hoje, não a teria vendido.
Mas a vida continua.
Julgo que é isto, e não há problema nenhum em passar para outras coisas, se a vontade assim ditar.
Importante mesmo é não deixar de pedalar. Não deixar morrer o bichinho.
